quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Primeiros cigarros


'Primeiros cigarros'
Desenho a pastel sobre folha A3 de papel
2016
ZMB

-- Então conta-nos a história?
-- Os meus primeiros cigarros foram no 10º ano, tinha quinze anos, no intervalo das aulas. 
Havia uma colega que se colava ao meu ombro e fazia de mim cabide cavalete?! 
E eu achava aquilo engraçado!
-- E está outra menina à espera...
-- Por acaso, é um rapaz a fumar também.
-- Agora diz-nos o que sentes? Não te esqueças: respira com o estômago.
-- Rebeldia, penso que é esse o sentimento do desenho. Os cigarros são um acto de rebeldia. O meu pai tirava-me os cigarros, não me dizia nada, roubava-mos sem me dizer e era a minha mãe, que tinha pena de mim, que mos devolvia e dizia que fumar mais mal (...)

(... e agora no remanso do quarto e do blogger continuo a reflectir:
iá!, achava engraçado mas era um bocado ingénuo, podia ter aproveitado o encosto da rapariga
mas eu era um chavalo que tinha vindo dum colégio, mal saíamos das aulas entrávamos na carrinha
e esta levava-nos a casa, não conhecia mundo, os meus pais estavam mais preocupados com afastar os filhos das más-influência e fizeram de mim um chavalo que teve de aprender às suas custas,
e claro às vezes calado outras vezes expansivo e sem a noção da palavra e as suas consequências.
Um dia, um colega já com barba feita começou a importunar-me no autocarro, e eu vinha-o aturando há dias, saltou-me a tampa e disse-lhe «quando falas ou sai merda ou entra piça», o que eu quero dizer é que não media as palavras e claro, levei um arraial de porrada, a rapariga passou-se para o lado do vencedor e eu cheguei a casa e foi como se nada tivesse acontecido, se o meu pai reparou não disse nada, educar o filho, preocupar-se com a sua educação e aconselhá-lo como se comportar e defender em sociedade não era tarefa para ele, vivia para o trabalho e chegava a casa e deitava-se doente, nunca foi um herói para mim.)
Sim, fumar começou por ser acto de rebelião.
Hoje é quase uma necessidade.

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